NASCIMENTO
DE SANTO ANTÔNIO A SANTO CURA D'ARS
Texto: Nadir Alves
A paróquia de Paiçandu, desmembrada da Catedral de Maringá em agosto de 1962, teve início com a Capela Santo Antônio. No lugar da atual igreja matriz, já foram construídas duas outras capelas de madeira. No segundo oratório, foi instalada e criada a Paróquia São João Maria Vianney – Santo Cura d’Ars. No entanto, no início, mesmo sem a existência de capelas, os fiéis pioneiros não deixaram que a falta de condições impedissem a propagação da fé em Deus com as santas missas, batizados e casamentos, entre outros sacramentos do catolicismo.
Quem freqüenta a Igreja Matriz da Paróquia São João Maria Vianney –Santo Cura d’Ars (o santo escolhido como padroeiro do município e festejado oficialmente no dia 4 de agosto), no centro da cidade, principalmente os mais jovens, nem imaginam como eram realizadas as missas e outras celebrações católicas no final dos anos 40, em Paiçandu. Mesmo sem padres e sem uma paróquia de fato, os desbravadores de nosso município trataram de improvisar para que o amor de Deus e seus ensinamentos começassem a florescer mesmo no meio do mato. A verdade é que não foi apenas a primeira missa que foi rezada sob panos, embaixo de um espaço que lembrava uma barraca. Muitos sacramentos assim foram ministrados. Nossa paróquia nasceu sob os cuidados da fé e espírito de perseverança de alguns, mesmo quando a cidade ainda pertencia a Maringá.
Paiçandu, a exemplo de outros municípios não apenas da região, é fruto da coragem de alguns que aqui chegaram, depositando esperança num futuro melhor e, consequentemente, na promessa da formação de uma cidade. A mudança para este novo local mesmo em pequenos ranchos, a derrubada do mato, a semente plantada e a certeza de terem feito a opção certa foram os responsáveis pela germinação de um novo município, saindo da condição de uma vila maringaense no dia 25 de julho de 1960, quando foi desmembrado.
A evolução da paróquia se deu com o desenvolvimento da cidade. Num livro-caixa, iniciado no dia primeiro de janeiro de 1958, assinado pelo padre Francisco Hairnle, está registrado em um carimbo Capela de Paissandu – Diocese de Maringá e num outro carimbo há a inscrição Paroecia B.V.M. Assumptionis – Eclesia Catedralis – Maringá-Paraná. O livro foi utilizado até maio de 1962, página 37. No último visto do bispo diocesano está registrado: “Ignoro o motivo porque foi aberto um novo livro-caixa. Obséquio de se comunicar com está Cúria Diocesana. Arquive-se”, Maringá 30 de agosto de 1962 – Jaime, Bispo Diocesano.
O começo
A saudosa Amélia Gandolfi chegou em Paiçandu, quando este era ainda um vilarejo, com o marido Ricieri Salvador Gandolfi e dois filhos no dia 19 de novembro de 1949. Um mês depois, ela e a família assistiram a primeira missa na cidade. “Paiçandu praticamente não existia. Algumas poucas casas e dois armazéns apenas. Igreja não tinha. As missas eram realizadas em barracas, com paus fincados no chão”, contava.
Ainda de acordo com ela e com o também saudoso Severino Bolognesi, as celebrações, normalmente uma vez por mês, eram feitas por padres de Maringá. Nesta época, andaram por aqui os padres Francisco Hairnle, Germano José Mayer, Francisco Fogleas e Benedito Vieira Teles, que eram os responsáveis em ministrar os sacramentos católicos, antes da vinda definitiva do saudoso cônego José Jezu Flor, em 8 de agosto de 1962, com a criação da Paróquia Santo Cura d’Ars.
Nesta data, conforme o Livro do Tombo, volume I, foi realizada a instalação da nova paróquia e empossado o primeiro vigário de Paiçandu, José Jezu Flor, às 16h30. A solenidade de posse contou com a participação do padre Benedito Vieira Teles, representante do bispo dom Jaime Luiz Coelho, dos padres João Novais e Antônio Domingues, o prefeito municipal Laurindo Palma, vereadores, Irmãos Maristas com a fanfarra do Ginásio Maringá, Irmãos Missionários de Jesus Crucificado, “grupo escolar e Escolas isoladas; associações religiosas de toda a paróquia e grande multidão de fiéis, lotando por completo a Igreja”, conforme atesta o Livro do Tombo, na página 12. Assim, pelo Decreto do bispo dom Jaime Luiz Coelho, Paiçandu tornava-se sede da Paróquia Santo Cura d’Ars, sendo desmembrada oficialmente da Paróquia da Catedral de Maringá, que pertencia a Jacarezinho. Desta forma, a Capela Santo Antônio, que nos registros era denominada Capela Paissandu, deixava de existir.
Ainda no primeiro registro do Livro do Tombo sobre a criação da paróquia, o cônego José Jesu Flor explica que a imagem de Santo Cura d’Ars foi emprestada do Seminário Diocesano, por não haver uma própria. Além disso, escreveu ainda que foram feitas as cerimônias de posse, celebrada a missa e realizados os primeiros batizados. “A Paróquia de Paissandu foi criada em poucos dias, porque no dia 2 e agosto apresentou-se uma comissão ao Sr. Bispo, pela edificação da casa paroquial e compra do jeep. A comissão era composta dos seguintes senhores: Laurindo Palma, Antônio Felix, Moacir Alcântara, João. Ante o compromisso, dom Jaime Luiz Coelho marcou a criação e instalação da paróquia para o dia 8 de agosto, dia do Santo Cura D’Ars. O vigário hospedou-se em casa do Sr. prefeito e depois em casa do Sr. Tomás Ribeiro, estabelecendo-se, por fim, na sacristia da igreja até que se faça a canônica”, conforme relatos do primeiro pároco. Essa construção só teve início em fevereiro do ano seguinte, sendo que a estadia de José Jezu Flor na sacristia da igreja durou um ano, pois a inauguração da casa paroquial só ocorreu no dia 8 de agosto de 1963. Mesma data em que o pioneiro Humberto Bernardino doou a imagem de Santo Cura d’Ars para a igreja matriz.
Igreja Matriz: três edificaçõe
Para chegar ao que é hoje, a Igreja Matriz teve duas outras edificações. De madeira, material abundante na região, as duas capelas foram construídas entre 1952 a 1960. A primeira, bem pequena, era de duas águas e bem baixa. A segunda capela tinha ao fundo da construção uma torre, que caiu, devido a uma forte ventania.
Wilson Gandolfi, filho de Amélia Gandolfi, na época saindo da adolescência, ajudou na construção da primeira capela. O feito se repetiu na segunda capela, sendo que o primeiro casamento celebrado nela, pelo padre Benedito Teles, foi o dele com Ciene Marques, no dia de 24 de fevereiro de 1962.
O templo atual só seria construído em 1975, porém sem a torre de 15 metros . A inauguração oficial da Igreja Matriz ocorreu no dia 5 de junho de 1975. No entanto, os trabalhos para que o projeto pudesse vingar começou quase dois anos antes. Para se ter uma idéia, a primeira reunião, para formar a comissão pró-construção da igreja matriz, realizou-se no dia 10 de fevereiro de 1974, sob o comando do então padre Ângelo Banki – segundo pároco de Paiçandu. Já a torre, só seria concluída no final de 1976.
A curiosidade da segunda para a terceira igreja foi que uma foi construída sob a outra. E, enquanto, a construção seguia, a capela de madeira continuou com as atividades eucarísticas. Nesse período, durante a celebração da missa de corpo presente de Roberto Fior, as inúmeras pessoas foram protegidas de uma forte tempestade pela construção. “O vento era muito forte. Se não tivessem sido levantadas as paredes da nova construção, a igreja de madeira poderia ter sido derrubada com todos dentro”, acredita Amélia Gandolfi.
Trabalho voluntário: doação e amor a Deus
Trabalho voluntário: doação e amor a Deus
Mesmo antes da chegada do primeiro pároco, as senhoras Amélia Gandolfi, Ana Craco Barbosa, Ana de Barros e Denair Fernandes eram as organizadoras “oficiais” da igreja católica em Paiçandu, as pioneiras. Mais tarde, o grupo contou com a colaboração de Angela Berlofa, entre outras que foram chegando com o desenvolvimento da cidade. Segundo Amélia Gandolfi e Ana Craco, que chegou ao município em 1957, o padre Benedito Teles foi pessoalmente “convocá-las” em suas respectivas chácaras quando estavam trabalhando na roça. “Iniciamos ali nosso trabalho. Cuidávamos de tudo de forma voluntária. O forro da segunda igreja de madeira fomos nós que conseguimos pedindo um metro para cada família. Essa campanha foi feita batendo de porta em porta, mesmo às vezes sendo mal recebidas e interpretadas por alguns ”, relembram as duas senhoras.
A incumbência de cuidar da igreja foi levada ao pé da letra por essas senhoras, mesmo com a chegada de José Jesu Flor. Tudo era bem cuidado. As tolhas de linho, conforme exigência da época, dos três altares eram lavadas e engomadas todas as semanas. O mesmo se repetia com as batinas pretas e todos os apetrechos usados pelo vigário. As flores que enfeitavam os altares eram colhidas no final da tarde do sábado, em algumas casas do município. Após a missa do sábado, elas permaneciam no templo a fim de deixá-lo arrumado para o dia seguinte. No domingo, lá estavam elas novamente. Levantavam cedo e vinham para a cidade trazendo café e bolacha para serem servidos logo depois da celebração. “A renda era integralmente revertida para as obras da igreja. O mesmo acontecia durante as festas. Fazíamos pudim, bolo e outros doces em casa, deixávamos a mandioca, a batata prontas e vínhamos para trabalhar. Sinto muita saudade mesmo. Éramos fortes e mesmo trabalhando na roça, tínhamos força e vontade para poder ajudar na igreja”, contava Ana Craco, a costureira oficial das toalhas da igreja.
Capela Marilá, primeiro templo de alvenaria da região, há pouco restaurada pela comunidade |